Viajar é estender as fronteiras da minha casa para além do impossível, ao infinito.

É vivenciar estórias que não me pertencem por destino, apenas por opção.

É lançar um olhar diferente sobre o mesmo.

É tentar entender o que há de universal nas minhas ideias sobre a vida.

E aquilo que em mim habita que é apenas "cultural".

Viajar é potencializar a vida que há para ser experimentada, sorvida, apreciada.

A minha curiosidade sobre o mundo não cessa.
Às vezes, apenas silencia diante do barulho ensurdecedor do cotidiano.

A dor corrói o homem
A dor corrompe
A dor se impõe
ainda que sem nome.
A dor vem de açoite
e nem espera a noite
para assombrar sua presa.
Fera indomada
arranca a pele e sorve
gota a gota, o sangue.
A dor torna o homem
refém do seu corpo:
A dor é o avesso do amor.

Destilo você pelos poros: suor. Vomito o seu desejo por mim: rejeição. Reenvoco seu rosto em meus sonhos: ilusão. Relembro o toque de suas mãos: tesão. Exalo o seu cheiro e me embriago do seu gosto doce e amargo, que me atordoavam de tanto prazer. O que fazer com a sua ausência, afinal, a não ser transformar você em mim?

Estou sangrando por dentro.
No meu sangue há cal, cimento, tijolo,
restos de uma implosão.
Restos de uma construção:
meu abrigo para toda a vida.
Em seu amor que se foi.

Eu sei muito pouco, mas tenho a meu favor tudo o que não sei.

Clarice Lispector