domingo, 28 de novembro de 2010

Sou assim: capítulo 1


Guardo papéis de todo tipo.
Contas pagas, antigas e novas, que tento organizar pelo mês e ano.
Receitas que imprimo com a intenção de cozinhar (apenas intenção...).
Críticas sobre filmes que nunca assisti.
Contos e poesias que me acham na rede de computadores.
Contos e poesias que ouso escrever, mas reluto em publicar.
Porque falo sobre isso aqui? Porque hoje, ao fazer uma arrumação nos meus papéis, que entulham meu home office, percebo que me encontro nas coisas que guardo. Como se fossem um inventário de mim mesma. Neles há desejos, expectativas, projeções que raramente se cumprem, como a coisa de querer cozinhar, mas não conseguir transpor os limites da cozinha, salvo para ligar o microondas ou beber água. Neles posso ver o quanto somos desejo, puro desejo. Vivemos porque queremos nos tornar algo que ainda não somos; queremos dominar conhecimentos que ainda não nos pertence; queremos ultrapassar e superar limites que hoje nos moldam como somos.
Jogar alguns desses papéis no lixo é abrir espaço (interno) para outras possibilidades.

sábado, 6 de novembro de 2010

VERBORRAGIA

É tempo de não mais querer: apenas ser
Em mim, não mais a face projetada
E sim a mulher realizada
Com tudo que é me é mais raro e caro
Vísceras, sangue, ossos, pele e pelos
Sonhos, desejos, enganos e apelos
Inteira, nua, arrebentada, pouco amada
Frente e verso da minha poesia
Sem seu verbo: pura verborragia.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Sozinha


Sozinha
Espero a sua chegada que não vem.
Vejo passarem barcos ao longe,
Velas coloridas que se dissipam no horizonte.
Pescadores chegam com suas redes cheias
Esperança de vida, em minha alma que anseia
Não por comida.

domingo, 18 de abril de 2010

M'ÁGUA

No entulho, a mágoa.
No vão dos olhos
Só escorre água.
M'água.
Ladeira abaixo
Desabam vidas:
Perdas irreparáveis.
Bens materiais não,
Muito mais:
Laços emocionais.
A filha, o pai, o avô,
Morro abaixo,
Soterrados.
Já não se vêem lares:
Apenas lixo, lama e terra.
Onde havia esperança
Hoje dança soberana
A morte.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009


Viajar é estender as fronteiras da minha casa para além do impossível, ao infinito.

É vivenciar estórias que não me pertencem por destino, apenas por opção.

É lançar um olhar diferente sobre o mesmo.

É tentar entender o que há de universal nas minhas ideias sobre a vida.

E aquilo que em mim habita que é apenas "cultural".

Viajar é potencializar a vida que há para ser experimentada, sorvida, apreciada.

A minha curiosidade sobre o mundo não cessa.
Às vezes, apenas silencia diante do barulho ensurdecedor do cotidiano.
A dor corrói o homem
A dor corrompe
A dor se impõe
ainda que sem nome.
A dor vem de açoite
e nem espera a noite
para assombrar sua presa.
Fera indomada
arranca a pele e sorve
gota a gota, o sangue.
A dor torna o homem
refém do seu corpo:
A dor é o avesso do amor.